domingo, 30 de setembro de 2007

Tremores


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Se meu corpo falasse ele diria que sofre a cada encontro...
A cada palavra, a cada suspiro duradouro, a cada sorriso meio entre dentes, meio de lado...a cada olhar fugidio, que se esquiva pra não ceder a tantos encantos, tanta chama que consome tudo e que arde tão docemente que faz cócegas na barriga.
São tantos tremores de pernas e estômago, pensamentos que fervilham e acabam por vagar numa mente confusa e inquieta e silenciosa e falante que acaba por dizer pouco e sentir profundamente. O coração tem um jeito tão diferente de bater que até assusta e digo isso a partir da experiência de pensar em ti pra ver se faz efeito: e faz. Lá está o salto esquisito do coração, uma coisa quase galope, que rouba o ar e acelera tudo de uma vez e depois provoca um repouso manso, um relaxar quase psicodélico...sim, há uma forma diferente que se faz em mim com você, em você comigo, em nós dois...em nós...em amarras. Estar hoje, estar amanhã, estar breve, estar longe, estar perto, estar longo...estar simplesmente é aquilo que me alucina e protege contra minha própria loucura. Sei que estás. Sei que estou. Sei que somos. E não me peça pra explicar, já que o entendimento não me pertence neste caso. Que maravilha...

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terça-feira, 24 de julho de 2007

Devolvam-me


Que maravilha!
Jogaram-me no mundo sem aviso prévio...
Nada me foi perguntado,
Dito ou muito menos confirmado.
Saída do conforto
Das cálidas entranhas maternas,
Eis-me aqui
Tremores estomacais friorentos
Adiposidade insuficiente me foi dada!
Suores diurnos intensos
Glândulas sebáceas extrapoladas!
Pobre criatura condenada a morrer de frio em pleno trópico...
Pobre inocente que sua até nos dentes...
Culpa deles,
Culpa dela e dele,
Culpa de vocês
Culpa de todos e de tudo que não seja eu.
Rebenta e rebentada nesse mundo vadio
Sedenta e sedentária intra corja hostil...
E eu que tome banho
E eu que pague as contas
E eu que consiga diploma
E eu que não beba, não fume, não f*
Na hora imprópria
E todas são impróprias!
Devolvam-me agora, exijo!
Empregaram-me sem benefícios
Demito-me mediante fundo enorme de garantia:
Todas as tardes ensolaradas na praia
Salário por horas dormidas
Amores insanos constantes
Cheiro de rosa, brisa fria nas pálpebras...
Banhos ferventes com gosto de menta
Capim pra deitar, céu azul.
Sinfonia de sax e viola vinte e quatro horas...
Isso me basta
Pelo prejuízo causado.

domingo, 22 de julho de 2007

Pra que serve o domingo?

Domingo...
Poderia ser um dia qualquer, se não fosse um domingo.
Pobre dele. É o começo da semana, mas insistem em deixá-lo como fim.
As coisas chatas merecem um domingo para serem feitas. Nunca soube de alguém que arrumasse o armário num sábado à noite, que fosse ao cemitério visitar os mortos numa segunda de manhã ou que fizesse um almoço em família numa quarta-feira.
Sinceramente eu tenho vontade de dizer pro domingo aguentar firme!
E tenho vontade de dizer para as pessoas: Ei, não falem mal do domingo!
Nós, seres que nos acostumamos com as chatices humanas, somos os grandes culpados pela má fama do domingo. Ou ninguém nunca notou que os dias são todos iguais?
Sim, se eu acordasse num dia de domingo ensolarado ou chuvoso em pleno estado de amnésia e alguém me dissesse: "Bom dia! O que fará nesta bela quinta-feira?!" certamente eu viveria uma legítima quinta-feira, se não fossem as regras dominicais humanas...(tipo comércio fechado, igrejas lotadas, pessoas comprando quilos e mais quilos de pães em qualquer horário nas padarias, enfim). É a vida que se arrasta aos domingos.
Chatices à parte, pensei hoje em começar mudando essa roupagem dominical na minha vida. Regras do tipo "não se deve sair de casa aos domingos" ou "domingo é dia de descanso" serão alvos de combate daqui pra frente.
E olha que quase sempre o que se preserva é a segunda-feira! Por que diabos se preserva logo a segunda-feira?! Talvez um dia eu escreva sobre este outro dia estigmatizado também...
Mas por enquanto desabafo em defesa deste outro aqui e tento livrar minha existência das malditas instituições do domingo nosso de cada dia...
VIVA O DOMINGO!

sábado, 21 de julho de 2007

Assim começam Outros Sonhos...


"Sonhei que o fogo gelou

Sonhei que a neve fervia

Sonhei que ela corava

Quando me via

Sonhei que ao meio-dia

Havia intenso luar

E o povo se embevecia

Se empetecava João

Se emperiquitava Maria

Doentes do coração

Dançavam na enfermaria

E a beleza não fenecia

Belo e sereno era o som

Que lá no morro se ouvia

Eu sei que o sonho era bom

Porque ela sorria

Até quando chovia

Guris inertes no chão

Falavam de astronomia

E me jurava o diabo

Que Deus existia

De mão em mão o ladrão

Relógios distribuía

E a policía já não batia

De noite raiava o sol

Que todo mundo aplaudia

Maconha só se comprava

Na tabacaria

Drogas na drogaria

Um passarinho espanhol

Cantava esta melodia

E com sotaque esta letra

De sua autoria

Sonhei que o fogo gelou

Sonhei que a neve fervia

E por sonhar o impossível, ai

Sonhei que tu me querias

Soñé que el fuego heló

Soñé que la nieve ardía

Y por soñar lo imposible, ay, ay

Soñé que tú me querías"


(Chico Buarque - Outros Sonhos)


Hoje o nome do blog é este, graças a esta bela canção e a todas as possibilidades para quais ela abre caminho na minha imaginação. Amanhã ou depois o nome poderá ser outro.

Experimentações, invenções, sonhos... O cotidiano jamais será previsível. Jamais será inutil também, seja ele leve ou pesado.


Seja bem-vindo e volte sempre!